segunda-feira, 2 de junho de 2014

a AGROPESCA

(Meu pai almejava um dia escrever a história do que foi a sua maior  realização pessoal durante o período em que residiu no Brasil. Guardou toda a documentação, mas não chegou a concretizar esse desejo. Apenas agora, após o falecimento de minha mãe, consegui recolher e ordenar todos os elementos, realizando aqui essa sua vontade. Para memória futura, aqui fica registada a história dessa empresa, necessáriamente em traços gerais, porque os pormenores apenas o meu pai podia contar.)

Em 28 de Maio de 1963, na sequência do que julgo ter sido a primeira iniciativa oficial da Firma,  a Câmara Municipal de Pelotas (Estado do Rio Grande do Sul, Brasil) autorizou a utilização da aparelhagem do "Entreposto de Leite" para o fabrico de gelo.

Em 13 de Novembro de 1963, a firma “Agropesca - Indústria de Produtos Agrícolas e Pescado, Ltda” fez uma proposta de aquisição de um barco a um armador de Santos.

Em 5 de Dezembro de 1963, a firma registava, no Departamento Nacional da Propriedade Industrial, a marca “Agropesca”, sendo a publicação no Diário Oficial da União feita em 10/4/64.


















Em 19 de Dezembro de 1963, o contrato social da Agropesca foi arquivado na Junta Comercial do Rio Grande do Sul, sendo sócios: José Munhoz Frade, José Gonçalves da Costa e Mário Ramos; o capital da firma era de doze milhões de cruzeiros; a empresa tinha a sede em Pelotas; destinava-se à exploração da indústria de produtos agrícolas, pescado, conservas alimentícias e fabrico de gelo.


Primeiro contrato social

Em 29 de Fevereiro de 1964, iniciou-se a compra do barco “Olímpico”, por quinze milhões de cruzeiros.

Em 18 de Novembro de 1964 a sociedade, com o capital social de 142 milhões de cruzeiros), era constituída por: José Munhoz Frade e José Gonçalves da Costa (sócios quotistas) e António Dourado dos Santos, Dorval Gaspar e Joaquim Dias (capital de quarenta e dois milhões de cruzeiros); destinava-se à exploração da pesca marítima e venda de produto, in natura ou salgado, nos mercados consumidores do Brasil.


Segundo contrato social

Em 2 de Fevereiro de 1965, lavrou-se a escritura de venda e compra do barco “Olímpico".



Em 28 de Setembro de 1965 procedia-se a alteração do contrato de sociedade por quotas, retirando-se Mário Ramos e admitindo-se como novos sócios quotistas Renato Caringi de Freitas, Dorval Gaspar, Deonilda Caringi Gaspar, António Dourado dos Santos, Ofélia Alves dos Santos, Joaquim Dias, Wolny Valente Ferreira e Delmira Maria Dias Ferreira. Mantinha o objectivo de exploração da indústria da pesca, indústria e comércio de produtos agrícolas, pescado, conservas alimentícias, fabrico de gelo e ramos correlatos. O capital social passava a ser de 210 milhões de cruzeiros, assim distribuído:

Renato Caringi de Freitas
70 milhões
José Munhoz Frade
40 milhões
José Gonçalves da Costa
40 milhões
Dorval Gaspar
10 milhões
Deonilda Caringi Gaspar
10 milhões
António Dourado dos Santos
10 milhões
Ofélia Alves dos Santos
10 milhões
Wolny Valente Ferreira
9 milhões
Delmira Maria Dias Ferreira
9 milhões
Joaquim Dias
2 milhões

A sociedade designava como administradores os sócios Renato Caringi de Freitas e Dorval Gaspar.

Terceiro contrato social

As instalações situavam-se na Margem do São Gonçalo (zona da Balsa), junto da "Cooperativa Sudeste de Carnes", onde actualmente decorrem as actividades de um Centro Tradicionalista Gaúcho.

Vista parcial de Pelotas (RGS, Brasil) - zona ribeirinha da Balsa, junto ao canal natural de São Gonçalo. No quadrante inferior esquerdo, visualizam-se os edifícios do antigo Frigorífico Anglo, atualmente reconvertidos em instalações de uma Universidade.
No quadrante inferior direito da foto, distingue-se a estrutura do Corpo 4 da fábrica (parcialmente em ruína).


PLANTA GERAL DA AGROPESCA
O Corpo 1 era constituído por: salas de Escalagem e de Salga, Moagem e Armazém de Farinha.

O Corpo 2 era a Fábrica de Farinhas e Óleos.

O Corpo 3 integrava a Central de Águas, a Casa das Caldeiras, a Oficina de Ferreiro e lavabos.

O Corpo 4 agregava Tanque de Gelo, Câmaras Frigoríficas, salas de Filetagem, Preparação e Cozedura, Sala de Autoclaves e Cravação de Latas, Sala de Expediente, Vestiário Feminino e Escritório.

O Corpo 5 era o Armazém.


Em 6 de Março de 1967, é celebrado com o Banco do Brasil um Contrato de Comodato.

Em 7 de Julho de 1967, Renato Caringi de Freitas transferiu 60.000 quotas para José Munhoz Frade e José Gonçalves da Costa, em partes iguais.

Em 28 de Julho de 1967, retirou-se o sócio José Gonçalves da Costa e procedeu-se a transferências de quotas; a sociedade manteve o capital social de 210 mil Cruzeiros Novos, assim distribuídos:

José Munhoz Frade
105 mil
Renato Caringi de Freitas
15 mil
Dorval Gaspar
15 mil
Deonilda Caringi Gaspar
15 mil
António Dourado dos Santos
15 mil
Ofélia Alves dos Santos
15 mil
Wolny Valente Ferreira
13,5 mil
Delmira Maria Dias Ferreira
13,5 mil
Joaquim Dias
3 mil

Com esta alteração do contrato social, ficavam como administradores os sócios José Munhoz Frade e Renato Caringi de Freitas.

Quarto contrato social

A análise contabilística da empresa efectuada em Outubro desse ano, registava um movimento de 1.088.198,25 NCR.

Em 20 de Março de 1968, os sócios Joaquim Dias, Wolny Valente Ferreira e Delmira Maria Dias Ferreira cederam a suas 30.000 quotas a José Munhoz Frade.

Em 29 de Novembro de 1968, o sócio administrador Renato Caringi de Freitas renunciou às funções de gerente, que ficaram entregues a José Munhoz Frade, a quem cedeu as suas 15.000 quotas. O balancete desse mês orçava em 940.252,51 NCR.



Em 13 de Dezembro de 1968, os sócios António Dourado dos Santos, Ofélia Alves dos Santos, Dorval Gaspar, Deonilda Caringi Gaspar cedem as respectivas quotas ao sócio José Munhoz Frade, que soma 60.000 às que detinha.

Em 19 de Dezembro de 1968, ao largo de Santos, o barco “Olímpico” sofreu um acidente de navegação, ficando inutilizado. Visto que o pescado era a única fonte de receita da Agropesca, o ano de 1969 foi penoso para a empresa e para o seu gerente. Logo nos meses seguintes se dirimiam questões com a banca. Eu próprio, então com quinze anos, ajudava meu pai, seja trabalhando no escritório, seja ao lado dos operários. Quando meu pai se ausentava de Pelotas, deslocando-se ao Rio de Janeiro (Planalto Hotel) para tratar de assuntos da empresa, como os relacionados com a estada do barco no estaleiro da Guanabara no mês anterior ao acidente, era comigo que os credores tratavam.

A seguradora britânica H. Clarkson & Company Limited só passado mais de um ano após o acidente, em Fevereiro de 1970, viria a ressarcir dos prejuízos. A despesa da última e incompetente reparação do Olímpico foi liquidada em 24 de Fevereiro de 1970, já depois de termos retornado a Portugal, após o que cessaram as actividades da Agropesca.


em 1970 (com 50 anos de idade)


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